Em el año de2006, cordiné en el Moitará – encuentro anual de  la Sociedade  Brasileira de Psicologia Analítica sobre símbolos de la cultura brasileña – um taller psicologico com el tema Cantando o luto amoroso. Para ello conte com la colaboracion de Marília Castelo Branco, psicóloga y arteterapeuta, y Nicolas Brandão Moreira da Silva, musico. 

No ano de 2006, coordenei no Moitará – encontro anual da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica sobre símbolos da cultura brasileira -, uma oficina psicológica com o tema: Trocando em miúdos – cantando o luto amoroso. Contei na oficina com a colaboração de Marilia Castelo Branco, psicóloga e arte- terapeuta e de Nícolas Brandão Moreira da Silva, músico.

El taller constituyó em un espacio ritual de elaboración del luto amoroso a través del repertorio seleccionado de la musica popular brasileña. Participaron del taller analistas junguianos de todas las edades.

 A oficina consistiu em um espaço ritual de elaboração do luto amoroso por meio de repertório selecionado da música popular brasileira. Participaram da oficina analistas junguianos de todas as idades.

Fue  notable la riqueza y creatividad del repertorio musical seleccionado por los participantes  y pudimos observar un alto nivel de identificación también de la población joven con el estilo romántico de la comunicacción amorosa.

 Foi notável a riqueza e criatividade do repertório musical selecionado pelos participantes e pudemos observar um alto nível de identificação também da população jovem com o estilo romântico de comunicação amorosa.

Aunque los participantes no relataron sus vivencias de luto, el grupo pudo comunicar-se por medio de letras de canciones expresivas de nuestro cancionero popular y que tratan de la pérdida amorosa. Recorrimos varios estilos de la MPB, donde los participantes sugirieron algunas canciones mientras cantaban trabajavan también en sus lutos. El refrán dice: quien canta sus males espanta o aún quién canta ora dos veces. 

Sem que houvesse um relato das vivências de luto dos presentes, o grupo pode se comunicar por meio de letras de músicas expressivas de nosso cancioneiro popular e que tratam da perda amorosa. Percorremos vários estilos da MPB, sendo que algumas canções foram sugeridas pelos participantes do grupo que, enquanto cantavam, mergulhavam também em seus lutos. O ditado popular nos diz: Quem canta seus males espanta ou ainda Quem canta reza duas vezes.

Fue posible tocar la emoción y darle su tiempo y espacio con  el recurso facilitador de la música. Técnicas psicodramáticas fueron facilitadoras para la realización del ritual. Dramatizamos el ritual de la despedida con globos abandonados al sabor del viento. 

 Foi possível tocar a emoção e dar-lhe seu tempo e com o recurso facilitador da música.Técnicas psicodramáticas foram facilitadoras para a realização do ritual. Encenamos o ritual da despedida, com bexigas abandonadas ao vento.

Los participantes tuvieron su tiempo para escribir y dibujar en los globos, nombrándolos con lo que desearían o necesitarían dejar irse de sus vidas.  Se hizo el cortejo entonando la canción de la MPB de los años 30 “Na virada da Montanha”de Lamartine Babo y Ari Barroso.

Os participantes tiveram seu tempo para escrever e desenhar nas bexigas, nomeando-as com o que desejariam ou necessitariam deixar ir embora de suas vidas. O cortejo foi feito entoando a canção da MPB dos anos 30 “Na virada da montanha” de Lamartine Babo e Ari Barroso.

 

 

  Na virada da Montanha

                       Lamartine Babo e Ari Barroso

 

“A saudade vem chegando      “La nostalgia se acerca

A tristeza me acompanha!      La tristeza me acompaña

Só porque…só porque…         Solo porque… solo porque

O meu amor morreu               Mi amor murió     

 na virada da montanha         A la vuelta de la montaña

O meu amor morreu              Mi amor murió

na virada da montanha”……. A la vuelta de la montaña….”

 Al contemplar  los globos al viento un participante del grupo dice: “Parece un funeral .“ Con ese habla podríamos concluir que el taller había cumplido sus objetivos.

Ao contemplar as bexigas ao vento um participante do grupo diz: “Está parecendo um funeral”. Com essa fala podiamos concluir que a oficina cumprira seus objetivos.

Carl Gustav Jung

Daqui escutei

Quando eles

chegaram rindo

 e correndo

entraram

na sala

e logo

invadiram também

o escritório

( onde eu trabalhava)

num alvoroço e rindo correndo

se foram

 com sua alegria

Ferreira Gullar –   (trecho de Poema Filhos do livro “Muitas Vozes”, de 1999)

“A perda de um filho é algo que você nunca mais se recupera.” Em entrevista dada à revista Bravo de outubro de 2010.

Na entrevista Ferreira Gullar relata que perdeu um de seus filhos nos anos 90 com cirrose aos 34 anos de idade.

Sente que não deu a devida atenção aos filhos.

Esse sentimento, a culpa é recorrente no caso da perda de um filho. Os pais esperam sempre que irão embora antes dos filhos e quando o contrário acontece o sentimento  de culpa e a impotência são muito grandes. O sentimento de amputação é relativo a uma parte arrancada da própria identidade vivida no filho. Como na música de Chico Buarque:

Pedaço de Mim
Chico Buarque

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

Na letra da música de Chico é descrito o sentimento de melancolia em que a saudade é uma presença, a única presença possível do filho que já morreu. Arrumar o quarto ainda é sentir a presença.  Continuar a navegar sem permitir que o barco da consciência atraque no cais e traga em sua concretude a ausência é a alternativa que pode ser viabilizada. A lembrança  de quem se foi é ainda uma forma de  presença e de adiar a perda.

 A saudade é o revés do parto porque eterniza a fusão com o filho  que não pode se desgarrar para seguir o próprio destino.  Aceitar que o destino do filho é dele e sobre o qual não podemos arbitrar é deixar ir como no parto e elaborar o luto.

Mas esse “delivery” , “deixar ir”, “entregar”é um processo penoso pelo qual  passa  o enlutado na elaboração de sua perda. Certamente , no exercício do desapego se dará um crescimento espiritual se a perda puder ser transformada em uma ação de amor, de um amor renascido  em direção ao outro e à própria vida.

 Na melancolia carrega-se eternamente a mortalha do amor perdido como diz Chico em seus versos: “Eu não quero levar comigo a mortalha do amor, adeus.”

 Em um grupo de psicoterapia, um casal se culpava por ter cometido um aborto. Nesse caso tinham optado por não ter o filho. O sentimento de culpa e o de responsabilidade eram terríveis. Embora soubessem as circunstâncias em que haviam feito essa escolha nada os acalmava. Foi necessário encenar a possibilidade do perdão do filho para que algum alívio ocorresse.  Essa é uma situação extremada de culpa , mas quando a morte ocorre sem qualquer arbítrio dos pais, ainda o sentimento de culpa e impotência ocorrem por não terem podido salvar o filho. Esse mesmo sentimento ocorre em abortos expontâneos.

 Na elaboração criativa da perda é preciso sair do sentimento de culpa para o de comunhão com o todo em que nos sentimos parte de uma existência  da qual não temos controle absoluto. Essa constatação pode ser um alívio na dor, mesmo que de uma dor que nunca passa, como disse Ferreira Gullar.

Ausência

07/07/2010

 

Visita

 Ferreira Gullar 

No dia de finados

 ele foi  ao cemitério

porque era o único

lugar do mundo onde

  podia estar

 perto do filho  mas

 diante daquele

  bloco negro

 de pedra

entendeu

impenetrável

 que nunca mais

 poderia

 alcançá-lo

  apanhou do chão um

 pedaço amarrotado

 de papel escreveu

 eu te amo filho

 pôs em cima do  

mármore sob uma flor

 e saiu

Soluçando

Ferreira Gullar .

  Ferreira Gullar destaca o caráter intangível da emocão da perda e  do luto. A perda da possibilidade de contato físico com o morto,  confere ao pensamento a tarefa e única possibilidade de ressuscitar e matar o objeto de amor na  vivência emocional, percorrendo um caminho do sentimento de ausência até a vivência mais plena da morte.

    Segundo Winnicott : “Manipular a ausência, é alongar esse momento, retardar tanto quanto possível o instante em que o outro poderia oscilar sêcamente da ausência à morte.”

Ausencia

04/07/2010

Visita

Ferreira Gullar

No dia de finados

ele foi ao cemitério

porque era o único

lugar do mundo onde

podia estar

perto do filho  mas

diante daquele

bloco negro

de pedra

entendeu

impenetrável

que nunca mais

poderia

alcançá-lo

apanhou do chão um

pedaço amarrotado

de papel escreveu

eu te amo filho

pôs em cima do

mármore sob uma flor

e saiu

Soluçando

Ferreira Gullar .

Ferreira Gullar destaca el carácter intangible de la emoción de la pérdida y del luto. La pérdida de la posibilidad de contacto físico con el muerto, le confiere al pensamiento la tarea y única posibilidad de resucitar y matar el objeto de amor en la vivencia emocional, recorriendo un camino del sentimiento de ausencia hasta la vivencia más plena de la muerte.

Según Winnicott : “Manipular la ausencia, es alargar ese momento, retardar tanto como posible el instante en que el Otro podría oscilar secamente de la ausencia a la muerte.”

No artigo “Cérebro luta contra o fim do amor ” de Débora Mismetti, publicado em 11/6/2010 na Folha de São Paulo entende-se que ficar só não é o melhor método para a cura de uma ferida do amor que acabou. O cérebro tenta restaurar a situação de recompensa e de satisfação experimentada enquanto o amor ainda estava vivo.A visão da neurologia contrasta com a da psicanálise desde seus primórdios que propõe a vivência do luto como condição da elaboração da perda. Ficar só e mergulhar na tristeza seria um caminho de elaboração que se afasta da solução maníaca de repor rápidamente o objeto de investimento amoroso. Trocar rápidamente de parceiro também pode ser uma forma de negação da perda.

A empatia experimentada anteriormente ficou sem objeto mas é necessário viver o vazio para que se possa instalar um novo espaço de acolhimento para um novo amor, uma nova empatia. O que você acha disso?

O artigo em questão afirma que as borboletas no estômago surgem no começo da relação, reduzem no meio e ressurgem no final. Será?

Há relações que esfriam completamente e acabam “sem borboletas”. Elas voaram para outro lugar: estão escondidas no inconsciente para escapar da ameaça de morte: a morte da libido experimentada quando as relações esfriam. Borboletas “histriônicas” às vezes permanecem no local de costume .

Na análise de casais o que vejo é que ao final da relação , as borboletas quando não estão escondidinhas no inconsciente, voaram para um outro estímulo atraente à libido: uma outra pessoa, o trabalho, um vício ou as fantasias, agora afastadas da relação. No estômago… um vazio.

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A um ausente

25/10/2009

Versos de Carlos Drummond de Andrade

Tenho razão de sentir saudade,

tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que rompeste

e sem te despedires foste embora.

detonaste o pacto.

Detonaste a vida geral, a comum aquiescência

de viver e explorar os rumos de obscuridade

sem prazo sem consulta sem provocação

até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.

Teu ponteiro enloqueceu, enlouquecendo nossas horas.

que poderias ter feito de mais grave

 do que o ato sem continuação, o ato em si,

o ato que não ousamos nem sabemos ousar

porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,

de nossa convivência em falas camaradas,

simples apertar de mãos, nem isso, voz

modulando sílabas conhecidas e banais

que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizeste

o não previsto nas leis da amizade e da natureza

nem nos deixaste sequer o direito de indagar

porque o fizeste, porque te foste.

Para Cássio

13/10/2009

 

SUTILMENTE

 Música de SkankDSC00701

“E quando eu estiver

Triste

Simplesmente

Me abrace

Quando eu estiver

Louco

Subitamente

Se afaste

Quando eu estiver

Fogo

Suavemente

Se encaixe

E quando eu estiver

Bobo

Sutilmente

Disfarce

Mas quando eu estiver

Morto

Suplico que não me mate não

Dentro de ti

Mesmo que o mundo

Acabe enfim

Dentro de tudo

Que cabe em ti….”

Luto amoroso

05/08/2009

divorceNa contemporaneidade, a auto-estima se confunde com a rápida adaptação às circunstâncias, e os ritos de aproximação e afastamento são tragados pela busca desenfreada por satisfação. A falta de acolhimento social para os momentos de transição como o do processo de luto, lança-nos em um movimento de negação que implica a necessidade de desfazer-se precocemente do registro da perda na consciência.

Em uma sociedade voltada para o sucesso individual, o término de um relacionamento é vivido como um fracasso pessoal e tratado com certa desconfiança e rejeição pelo outro. Este, aqui entendido tanto como o outro “de fato”, como também pelo outro protagonizado pela sombra individual. Pois, o sujeito que se separa compartilha de uma mesma consciência coletiva, e tende a julgar-se mesmo quando o restante da sociedade o ignora. Neste caso, ele próprio exercita o julgamento que espera dela, em uma situação de solidão que acentua a angústia de morte vivida na separação.

Quando caímos no luto estamos diante da perda de um objeto. A primeira vivência do luto é a ausência do outro em nossa vida. A ultrapassagem desse momento de ruptura pode não se dar completamente, e o enlutado refugia-se na tristeza, de tal forma, que se confunde e já não sabe o que perdeu.O melancólico perdeu seu próprio eu.