A perda de um filho
07/10/2010
Quando eles
chegaram rindo
e correndo
entraram
na sala
e logo
invadiram também
o escritório
( onde eu trabalhava)
num alvoroço e rindo correndo
se foram
com sua alegria
Ferreira Gullar – (trecho de Poema Filhos do livro “Muitas Vozes”, de 1999)
“A perda de um filho é algo que você nunca mais se recupera.” Em entrevista dada à revista Bravo de outubro de 2010.
Na entrevista Ferreira Gullar relata que perdeu um de seus filhos nos anos 90 com cirrose aos 34 anos de idade.
Sente que não deu a devida atenção aos filhos.
Esse sentimento, a culpa é recorrente no caso da perda de um filho. Os pais esperam sempre que irão embora antes dos filhos e quando o contrário acontece o sentimento de culpa e a impotência são muito grandes. O sentimento de amputação é relativo a uma parte arrancada da própria identidade vivida no filho. Como na música de Chico Buarque:
Chico Buarque
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Na letra da música de Chico é descrito o sentimento de melancolia em que a saudade é uma presença, a única presença possível do filho que já morreu. Arrumar o quarto ainda é sentir a presença. Continuar a navegar sem permitir que o barco da consciência atraque no cais e traga em sua concretude a ausência é a alternativa que pode ser viabilizada. A lembrança de quem se foi é ainda uma forma de presença e de adiar a perda.
A saudade é o revés do parto porque eterniza a fusão com o filho que não pode se desgarrar para seguir o próprio destino. Aceitar que o destino do filho é dele e sobre o qual não podemos arbitrar é deixar ir como no parto e elaborar o luto.
Mas esse “delivery” , “deixar ir”, “entregar”é um processo penoso pelo qual passa o enlutado na elaboração de sua perda. Certamente , no exercício do desapego se dará um crescimento espiritual se a perda puder ser transformada em uma ação de amor, de um amor renascido em direção ao outro e à própria vida.
Na melancolia carrega-se eternamente a mortalha do amor perdido como diz Chico em seus versos: “Eu não quero levar comigo a mortalha do amor, adeus.”
Em um grupo de psicoterapia, um casal se culpava por ter cometido um aborto. Nesse caso tinham optado por não ter o filho. O sentimento de culpa e o de responsabilidade eram terríveis. Embora soubessem as circunstâncias em que haviam feito essa escolha nada os acalmava. Foi necessário encenar a possibilidade do perdão do filho para que algum alívio ocorresse. Essa é uma situação extremada de culpa , mas quando a morte ocorre sem qualquer arbítrio dos pais, ainda o sentimento de culpa e impotência ocorrem por não terem podido salvar o filho. Esse mesmo sentimento ocorre em abortos expontâneos.
Na elaboração criativa da perda é preciso sair do sentimento de culpa para o de comunhão com o todo em que nos sentimos parte de uma existência da qual não temos controle absoluto. Essa constatação pode ser um alívio na dor, mesmo que de uma dor que nunca passa, como disse Ferreira Gullar.
Como trazer de volta as borboletas
18/06/2010
Quando uma convivência conjugal termina as borboletas do frisson sentido no estômago do tempo da paixão dão lugar aos sentimentos ambivalentes de alívio de tensão e de luto. A neurociência propõe que o cérebro tende a buscar a situação de equilibrio anterior através da inslação das antigas sensações.
Mas hoje o que temos é um imediatismo na busca de satisfação. Dessa espiral de busca sem limites, expressa também na ânsia de consumo, vemos um movimento ascendente em direção ao mundo e descendente em direção ao sujeito.
Jung descreve o processo de individuação como um movimento em espiral, de progressões e regressões. Progredir e regredir aqui tem um sentido de compensação energética entre uma vivência e outra. Precisamos de um tempo para evoluir de um estado de consciência para outro. Restabelecer o equilibrio é apontar para algo novo. Não é voltar ao estado anterior da alma. Porém, regredir é também caminho para progredir. O grande desafio é reencontrar, em outro formato, a experiência de satisfação e a criatividade que diante do luto se arrefeceram.
Trazer de volta as borboletas do desejo , da alegria e da esperança exige um intenso trabalho psíquico. Não é suficiente encontrar um outro parceiro amoroso. O caminho do pleno gozo é o caminho de encontro consigo mesmo quando os humores da libido trazem de volta as borboletas.
Borboletas no estômago e perda amorosa..com
12/06/2010
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Caro ( X)
Soube pela sua mãe que você está passando por uma fase dificil. Ninguém reage com desespero se não estiver sofrendo muito.Tomou algumas decisões na vida que implicam deixar seu projeto de vida anterior. São decisões difíceis. Mas você estava certo. Se você sentiu que não era o seu caminho foi melhor se retirar dele.
Agora precisa retomar sua vida. Você me disse que quer estudar, fazer uma faculdade. Pensou até em ser psicólogo. Mas para isso terá que fazer alguns sacrifícios e ficar bem emocionalmente.
Está na idade de conhecer várias mulheres e de se tornar um homem seguro e merecedor de respeito da que você escolher.
Não fique inseguro. Tudo isso faz parte do seu crescimento. Sua mãe às vezes fala muito mas é porque quer o seu bem. Ela é uma mulher lutadora e já sofreu muito também e deu a volta por cima. É um exemplo de luta. Ela gosta muito de você e sofre ao ver você sofrer.
Todo mundo já passou por uma fase difícil. A vida não é fácil. Ela traz desafios. Mostre que é corajoso e forte. Não se deixe dominar por caminhos de fuga. Os caminhos de drogas ou álcool também parecem ser caminhos de felicidade a curto prazo. Mas é um engano. É como subir muito rápido com um avião e depois despencar lá de cima. Toda subida deve ter um equilíbrio com as forças dos ventos. Os ventos são nossas emoções. Somos humanos, temos emoções e precisamos respeitá-las. Senão elas nos derrubam. Nossa aeronave despenca. Sua mãe conseguiu um profissional para cuidar de você . Isso é ótimo .
Aproveite essa chance, esse presente que a vida está lhe dando. Vá firme e forte conversar com ele. Mostre que é um homem de força de vontade e que sabe o que quer: o seu bem.
Eu estou aqui para o que precisar da psicologia. Não se arrependa do passado. Pense no futuro. Aproveite essa chance.
Um grande abraço. Celia Brandão
Ps: Essa carta foi enviada a um jovem com um problema de uso abusivo de cocaína e que se negava a buscar ajuda profissional.
Formatura de jornalismo Cásper Libero 2010
18/02/2010
Homenagem aos pais ( texto extraído parcialmente do livro Lavoura arcaica )
O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor. Embora inconsumível, o tempo é nosso melhor alimento. Sem medida que o conheça, o tempo é, contudo, nosso bem de maior grandeza. não tem começo, não tem fim. É um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo, entretanto, prover igualmente a todo mundo. Onipresente, o tempo está em tudo.
Rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas. E, nem aquele, devasso, que se estende, mãos e braços, em terras largas. Rico é o homem que aprendeu , piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, estando atento para o seu fluxo.
Meu comentário:
Caminhada feita , o reconhecimento aos pais que apostaram no tempo e nele investiram. Ter filhos é investir no tempo. É investir em um devir para o qual nos lançamos. Temer ter filhos ou abandonar os filhos é abandonar o investimento nesse não determinado. Saber “brindar o tempo com sabedoria’ como foi feita a referência , talvez seja mesmo o patrimônio da paternidade e da maternidade. Contemplar o desenvolvimento de um filho, acompanhando e respeitando seu processo. Mas não devemos esperar por um retorno externo ou do resultado final mas nos alimentar do gosto agridoce da trajetória.
E a fala continua: “Queridos pais, mães aqui presentes, obrigada pela ternura, pela paciência, pelos conselhos , pela dedicação.
Saibam que “brindar o tempo com sabedoria”é a maior de todas as lições que recebemos de vocês!
Liberdade e sexualidade.
13/02/2010
Em sua obra os arquétipos e o inconsciente coletivo Jung diz: ‘O símbolo é a antecipação de um estado nascente de consciência. ..tudo que o homem deveria mas ainda não pode viver em sentido positivo ou negativo, vive como figura e antecipação mitológica ao lado de sua consciência, seja como projeção religiosa ou- o que é mais perigoso- conteúdos do inconsciente que se projetam então em objetos inconscientes , como por exemplo, em doutrinas e práticas higiênicas e outras “que prometem salvação”. Tudo isto é um substitutivo racionalizado da mitologia que, devido a sua falta de naturalidade, mais prejudica do que promove a pessoa humana”.
O simbolo e a mitologia emergem da relação direta do homem com a natureza e é a nossa forma de interpretação do mundo. Para Jung os simbolos do si mesmo surgem da profundeza do corpo e expressam sua materialidade, como também a estrutura da consciência discriminadora. O simbolo tem uma dimensão no instinto e uma no espírito. “O simbolo é o corpo vivo, corpus et anima”. Em seu nível mais baixo a psique é pois simplesmente mundo. Nos inserimos na cultura e no inconsciente coletivo .
A sexualidade portanto é um simbolo do inconsciente coletivo .As manifestações de símbolos relativos à sexualidade devem ser analisadas à luz da consciência , levando em consideração os valores éticos de um grupo ou sociedade. As crianças são educadas por aquilo que o adulto é e não por suas palavras, já dizia Jung.
A invasão do universo infantil por conteúdos do mundo adulto, como perversões sexuais, seria como colher a fruta ainda verde , antes mesmo que pudesse amadurecer. Essa vulnerabilidade da criança, nos casos de pedofilia deve ser cuidada pelos cidadãos preocupados em discutir o assunto e com poder na sociedade para isso.
Reprimir não é a solução. Mas devemos levar sempre em consideração que violência é o abuso de poder de um mais forte sobre um mais fraco. A questão não é encontrar instrumentos de punir e cercear mas procurar entender os significados das manifestações que envolvem a sexualidade na contemporaneidade . A internet é só um veículo a ser administrado.
Auto – estima dos homens
07/10/2009
Foto: Banda Seis Sextos
A perda dos homens na contemporaneidade da legitimidade como provedores e chefes de familia, e por outro, dos privilégios associados à condição de progenitores , dados os avanços de reprodução assistida, e finalmente, como referencias simbólicos, essenciais na criação das crianças, tem contribuido para a baixa auto-estima e para o conflito de identidade na população masculina.
Como consequência, a dificuldade de exporem em público e entregarem também na intimidade sua afetividade sem se sentirem fragilizados.
Sendo o papel do sustento da famlia compartilhado com a mulher e o papel dos cuidados domésticos ainda não valorizado, esses homens vêem seu papel na casa como residual e periférico, sentindo-se desvalorizados.
A competência da mulher e os cuidados da mulher são subtraidos à sua competência.
O afastamento do homem das tarefas domésticas restringe seu universo e sua referência de auto-estima ao mundo profissional. Em uma situação de desemprego, ou crise profissional, o sentimento de impotência perante a mulher, se agudiza quando, principalmente, a companheira exerce atividade profissional .
O homem contemporâneo está se relacionando com um imago de uma mulher extremamente poderosa.
Essa percepção desencadeia disputas entre os casais em que se confude : apego com controle, cuidado com domínio, carinho e demonstração de afeto com fragilidade.
O grande desafio é o resgate da afetividade dos homens que não se intimide frente à competência e autonomia das mulheres.
Identidade e poder nas relações amorosas
15/09/2009
O atendimento a casais e clínico individual a homens e mulheres me permitiu observar as diferenças de poder que perpassam as parcerias como fatores de conflito. Essas diferenças de poder resultam em diferentes níveis de investimento, generosidade, permissividade, solidariedade, aceitação de diferenças, ideais de satisfação pessoal que Neves chama de “obscuridade das relações de intimidade”. O desequilíbrio de poder entre os parceiros é um dos fatores da violência entre casais. No atendimento em psicoterapia, a homens de 30 a 53 anos, a autonomia das mulheres aparece em algumas falas masculinas como sinonimo de abandono e de não acolhimento afetivo. Os homens estão se confrontando com um imago de mulher muito poderosa que em seu imaginário não necessita de seu afeto e nem tão pouco de sua proteção. Mas, ao contrário, cuja competência é vivida como ameaça.
Por outro lado, essa mesma mulher que conquistou sua independência financeira e liberdade sexual não tem essas conquistas reconhecidas e por ela legitimadas como expansões dos limites de sua identidade.
Sendo assim ainda não deitou as armas, armadura que considera necessária diante de uma ameaça de perda de suas árduas conquistas. Ainda apegada ao modelo patriarcal e ao amor romântico simula a dependência ao companheiro através de uma cobrança torturante para que exerça os papéis tradicionais na vida do casal, cuidados esses, dos quais nem ela mesma acredita depender.
Dessa maneira a díade homens fóbicos versus mulheres abandonadas se complementa por uma outra: mulheres ressentidas e aguerridas versus homens fóbicos. É uma característica do ressentido se tornar reativo frente ao medo de sofrer um novo agravo ou nova frustração.
“ Separar a sexualidade masculina dos conceitos de força, poder e violência, históricamente atribuídos ao homem, é uma tarefa tão complexa quanto separar a fada da bruxa, da mãe, da libertina. No tocante à mulher o trabalho já foi feito. Mães, irmãs e filhas podem se excitar, desejar e gozar. E os homens, podem pôr em público a ternura sem se emascularem?”Mautner, Anna,V Folha de São Paulo Equilíbrio 21/maio 2009 pag 2 .
No trabalho clínico verifico que homens jovens tem estabelecido relações amorosas com garotas de programa que haviam lhes atendido profissionalmente. Relatam que com essas mulheres não tem conflitos. Não se sentem ameaçados em receber afeto dessas mulheres enquanto com suas esposas sentiam-se em constante disputa pelo poder. Queixam – se de suas mulheres como dominadoras, briguentas, pouco carinhosas, pouco afetivas, demandadoras.
Nessas novas relações voltam ao padrão tradicional, onde sustentam a companheira, pagam estudos, e acrescentam ter a vantagem de um excelente sexo. Sentem estar realizando algo especial por essas mulheres e que estão sendo valorizados.
Esse mesmo padrão se repete entre homens mais velhos e mulheres mais jovens.
Do outro lado, a queixa de muitas mulheres bem sucedidas profissionalmente e independentes financeiramente de diferentes faixas etáreas é de serem abandonadas sexualmente e afetivamente por seus companheiros que se sentem impotentes diante de suas competências como provedoras e, às vezes, com maiores salários.
Outra queixa é a da exploração financeira por parte dos companheiros que interrompem o relacionamento quando diminuem as facilidades financeiras.
Esses fatos convergem com a tese de Nolasco de que alguns elementos que conferiam ao homem anteriormente identidade, agora não são mais exclusividade do masculino.
A possibilidade de abandonar a mulher ou de ser violento e dominador, destituindo-a de seus elementos de força, poder e liderança podem ser uma tentativa do homem de resgate de sua potência e identidade.
Mas dessa forma estaríamos em um círculo vicioso mantido por um eterno ajuste de contas.
Segundo Baumann o desejo é um impulso que estimula a despir a alteridade de sua diferença; portanto a desemponderá-la [disempower]. Tentar domesticar as diferenças não seria a solução mas sim estabelecer o diálogo na busca de uma maior equidade.
Diálogo esse que não se faz apenas nas relações afetivas mas nas relações de poder mais amplas.
Dessa forma poderia emergir em cada um a verdadeira responsabilidade pelo outro e a possibilidade do vinculo amoroso que se separa da posse e do poder.
Eros se distancia da posse e do poder. “Eros é uma relação com a alteridade, com o mistério, ou seja, com o futuro, com o que está ausente do mundo que contém tudo o que é(…) O Pathos do amor consiste na intransponível dualidade dos seres”[ Levinas apud Baumann] (….) “Eros não quer sobreviver à dualidade. Quando se trata de amor, posse, poder, fusão e desencanto são os Quatro Cavaleiros do Apocalipse.” Baumann, Z Amor líquido pag 22.
( Esse Post é parte do trabalho que foi apresentado e publicado nos Anais do V Congresso Latino Americano de Psicologia Junguiana de 2009 realizado em Santiago do Chile)
Enflaquecimiento de la figura paterna
13/09/2009
Enflaquecimiento de la figura paterna
Hemos estado asistiendo a un enflaquecimiento de la figura masculina, desde los movimientos de liberación de las minorías. El hombre blanco heterosexual heredero del sistema patriarcal perdió fuerzas y con eso la figura del padre dentro de la familia.
Estamos ante la fragilidad de la autoridade del padre de “Anabella” que no consigue impedir que la tragedia ocurra.
Sin embargo, es importante señalar que siempre ha existido el abuso y la violencia hacia los niños.
De esa forma, para la efectiva comprensión del fenómeno de la violencia intrafamiliar, es importante considerar los fenómenos histórico sociales y la historia individual que posibilitan el análisis de los patrones de relación dentro de la familia.
El hombre que no se siente respetado en su identidad, del punto de vista simbólico como padre y compañero, reacciona con violencia. La violencia surge como último recurso para rescatar la identidad perdida.
En el caso “Anabella” ( nome fantasia ) , la rabia psicótica e impotencia de la pareja fue el motor de la violencia. ( Ler conto de Beatriz Bratcher adaptado e resumido para o espanhol e postado no Blog anteriormente)
El abuso del poder y el pacto del silencio
12/09/2009
El abuso del poder y el pacto del silencio
La psicoanalista Elisabeth Roudinesco dice que “La bestia inmunda no es el animal sino el hombre.”
El hombre es el único animal capaz de ser agresivo
con la intención de causar daño y destruir al otro.
La violencia denuncia la fragilidad o la amenaza de falencia del poder.
El tema de la violencia es de naturaleza multidicisciplinaria pero en esa clase el enfoque será psicosocial, dejando de lado aspectos biofisiológicos también importantes en el enfoque de la violencia.
Enfocaré aquí la violencia, en particular en el segmento de abuso hacia niños y adolescentes.
Comprendo violencia como el uso de la agresividad con el deseo de destruir, ejercer dominio o causar daño a la integridad física y/o emocional del otro(s) o de sí mismo. Esa acción puede ser consciente o emerger en parte inconsciente, pero tiene la intencionalidad como su carácter distintivo.
La violencia es un acto que se instituye en una cultura, y , por tanto, condensa y representa las actitudes de un grupo. Todo acto de violencia del punto de vista de la cultura tiene un carácter expiatorio porque consolida la maldad social.
Según Girard la violencia fundadora libera al grupo de su sentimiento de amenaza interno respecto las agresiones y recriminaciones que abalaban la cohesión grupal.
De este hecho un poder redentor puede ser atribuido a la víctima sacrificial.
La víctima opera una función trascendente entre el bien y el mal.
Sabemos que todo ritual de veneración tiene una dimensión arquetípica pero se inserta en una cultura.
En la Edad Media los místicos alimentaron la fantasía de sacrificar el cuerpo para ofrecérselo a Dios. Los libertinos y Sade , habían elegido el cuerpo como el único lugar del goce oponiéndose al cristianismo que había elegido el alma.
El nombre del Marqués de Sade se vuelve un substantivo en el siglo XIX para designar al enemigo del prójimo, de sí, de la nación.
Durante el Iluminismo se consideraba perverso aquel cuyo instinto se traducía en la bestialidad originaria en el hombre. Era el goce en el mal.
Esa concepción de naturaleza humana estribó los primeros estudios psicoanalíticos en el siglo XIX con la teoría del Instinto de Muerte de Freud. Freud reve en1920 en su artículo “Más allá del principio del placer” su primera formulación del Instinto de Muerte.
Hoy no se considera la perversidad o la maldad intencional como originaria, sino una acción humana en su inserción en la cultura de hacerle daño al otro.
Debemos diferenciar violencia de agresividad como potencialidad arquetípica.
Para Hannah Arendt la violencia “no promueve causas, ni la historia, ni la revolución, ni el progreso, ni el retroceso: pero puede servir para dramatizar quejas y traerlas a la atención pública.”
Según Hannah Arendt, “hay un consenso entre los teóricos de la política de que la violencia no es sino la más flagrante manifestación de poder.[…]
“La política es una lucha por el poder: el último género de poder es la violencia, dijo C. Wright Mills, o sea, “el dominio de los hombres sobre los hombres” en el lenguaje de Max Weber.”
Es cuando el poder legítimo pierde la fuerza, cuando el sentido ético se pierde, que se da la violencia, el abuso del poder y el pacto del silencio.
(extraido do Curso que ministrei no V Congresso Latino Americano de Psicologia Junguiana – Curso Pre Congresso)