A psique se projeta buscando a individuação. Na análise através das projeções e identificações ocorrem os mecanismos da transferência e da contratransferência. Afetos e potencial arquetípico se constituem em imagens e símbolos, gestos, palavra que comunica conteúdos da alma individual e coletiva.

Desde a denominação de falsa conexão na psicanálise freudiana, passando pela talking cure de Ferenczi o conceito de contratransferência tem se transformado.

A contribuição de Paula Heimann  em 1950 foi fundamental para que se entendesse a contratransferência como ferramenta essencial do processo analítico. A contratransferência deixa de ser vista apenas como transferência do analista e passa a ser entendida como instrumento de compreensão do cliente. O cliente também opera mudanças na psique do analista através do mecanismo  de identificação projetiva. A contratransferência pode ser produto também da personalidade do paciente.
O conceito de contratransferência foi pouco discutido por Carl Jung. Mas para Jung a contratransferência é útil para estabelecer um rapport entre analista e cliente  desde que a identificação entre analista e cliente não resulte em um tipo de participação mística ou fusão e contaminação mútua.

Na contemporaneidade o conceito de intersubjetividade tem trazido luz ao entendimento do processo analítico. Em uma relação analítica  a intersubjetividade pode ocorrer em diferentes níveis( da fusão à identificação projetiva, simpatia e empatia). Os níveis de identificação entre analista e cliente acompanham o desenvolvimento da análise e aparecem na s várias formas de contratransferência. O analista poderá responder mais ou menos às demandas do self de seu cliente dependendo da possibilidade de sentir com o outro e ao mesmo tempo diferenciar-se, mantendo a observação. O analista vive suas emoções e empresta o seu sentir ao outro (cliente).

Na contemporaneidade entre analistas Junguianos e alguns psicanalistas contratransferência passa a ser entendida como qualquer impacto e resposta emocional do analista no setting relacionada ao cliente. Não se refere apenas a pontos cegos do analista  e veicula sua emoção  na análise.

Jung apontou a relação pessoa/ pessoa na análise como ferramenta e fulcrum da transformação de analista e cliente. Propôs o modelo alquímico de transformação das substâncias para entender a influência entre analista e cliente que ocorre durante todo o processo resultando na transformação de ambos.

Relatos clínicos demonstram que para além de interpretações corretas está a atitude compreensiva do analista como agente de transformação. Analista e cliente devem se beneficiar dos momentos de “telle”, de comunicação inconsciente, desde que esses momentos possam ser transformados em uma nova etapa do processo de transformação, resultado da reverberação de um no outro. Nem tudo que é vivido em análise se traduz em compreensão verbal. Boa parte do trabalho do analista se dá em manter ativo um campo de interações que promova a transformação individuativa.

Michael Fordham fala do mecanismo de introjeção como essencial à compreensão da contratransferência. Para o autor, a contratransferência sintônica resulta da introjeção por parte do analista de um conteúdo ou parte do self de seu cliente. Essa sintonia pode ajudar na compreensão dos processos psíquicos que ocorrem durante a análise. A introjeção é um mecanismo básico da contratransferência e  para haver uma introjeção é preciso que em algum momento tenha havido uma projeção.

É o processo afetivo que legitima as percepções do analista, segundo Michael Fordham. A contratransferência contém material empático e pode ser sintônica.

Os êxitos e fracassos da análise podem ser analisados à luz da qualidade emocional das intervenções feitas pelo analista. A busca da análise deve ser propiciar um campo favorável à emergência do símbolo e dos significados buscados pelo cliente , processo no qual o analista é apenas um preparador de caminho como definiu Carl G. Jung.

Empresas Familiares

27/01/2011

Freud ao refletir sobre a etiologia  da neurose apontou dois fatores de satisfação e de conflito primordiais  humanos: o amor e o trabalho.

Quando amor e trabalho apresentam uma grande área de intersecção como é o caso das empresas familiares  emergem conflitos  muitas vezes impossíveis de serem contornados  que levam à falência do negócio ou ainda dos projetos individuais. Se o foco deixa de ser no negócio e a familia vê na empresa apenas  o lugar da preservação do seu  patrimônio afetivo e material, a possibilidade de estagnação do processo de crescimento da empresa existe.

Algumas questões são centrais para uma reflexão sobre o tema :

. De que modo o modelo de exercício da autoridade presente na familia pode influir no estilo de liderança predominante em uma empresa?

. Como os conflitos familiares, desejos e fantasias dos membros da familia extravasam na empresa e quais são as consequências disso?

Em uma empresa familiar temos dois sistemas interagindo:  a familia e a organização. Esses sistemas interagem segundo o esquema conceptual operativo do grupo Empresa/ Familia. Segundo Pichon Riviére, todo grupo tem uma tarefa inconsciente que se não for decodificada pelo próprio grupo poderá atuar como bloqueio na realização das operações ou tarefas  do mesmo grupo. A tarefa inconsciente se não for decodificada se constituirá como sombra grupal .

Os sentimentos que cada membro da familia desperta em cada um dos demais, a forma como cada anseio é ou não compartilhado também são vividos pelo consultor através da contratransferência.  A contratransferência é um termo cunhado por Freud para se referir as emoções do analista durante a análise, motivadas pelas fantasias e emoções do cliente . Hoje é entendida como ferramenta de trabalho na análise e nas intervenções de caráter clínico, na abordagem  psicodinâmica . Na contratransferência atuam projeções de conteúdos do cliente para dentro do analista e vice-versa. A forma como o profissional se identifica com esses conteúdos definirá seu modo de interação com seu cliente. Da mesma forma na transferência o cliente projetará conteúdos emocionais no analista e se identificará de várias formas com seu analista. O fulcrum dos processos transferenciais é a emoção  dos envolvidos. A aplicação desses conceitos à psicologia das organizações possibilita o trabalho com conflitos para os quais um trabalho apenas através de uma abordagem cognitiva não teria sucesso. A contratransferência do consultor e a transferência do cliente são fonte de entendimento das relações interpessoais na organização.

Um conceito familiar à Psicologia Junguiana é o de simbolo. O símbolo conecta o que aparentemente estava separado e recupera o sentido. A análise dos mitos grupais possibilita a compreensão simbólica dos valores que regem uma instituição ou grupo. Se nos mantivermos atentos aos temas das narrativas e diálogos,  estaremos mais próximos de uma compreeensão dos mitos, fantasias, idealizações, presentes nas ações grupais.

Tomando como referência o conceito de inconsciente coletivo junguiano, através de uma análise dos mitos grupais poderemos entender temas centrais nos conflitos grupais , como também entender seus  potenciais , anseios e valores.

O consultor e o mediador passam a fazer parte da trama de relações a partir do momento em que inicia o processo de acessoria a um grupo. Serão envolvidos no processo através da projeção feita pelo grupo dos conteúdos inconscientes grupais  a serem trabalhados.

Da mesma forma , nos empreendimentos familiares , as práticas empresariais serão afetadas pelas necessidades afetivas da familia e por seus anseios. Sem trabalhar com as emoções do grupo e com as próprias o profissional terá dificuldade de cumprir sua tarefa de mediador de conflitos.

Os aspectos positivos dos laços afetivos assim como seus aspectos negativos serão matéria – prima do trabalho.  Conflitos pessoais não resolvidos, rivalidade entre familiares, diferentes anseios sobre a empresa são fatores cruciais para o sucesso ou fracasso do empreendimento familiar.

Tragedia em Teresopolis Região serrana do Estado do Rio. por estiloradical no Videolog.tv.

Como é difícil a compaixão .  O tema me ocorreu diante da tragédia já anunciada , porém não evitada pelas políticas públicas na Região Serrana do Rio em 2011. Como me colocar na pele de quem perdeu sua casa ou tudo que possuia ? Se aqui não está chovendo….como me colocar na pele de quem sofre com a destruição das chuvas ? Como me colocar na pele de quem perdeu seus entes queridos, seu vizinho, seu amigo?

Compaixão é interessar-se verdadeiramente pelo sofrimento do outro e acolhê-lo. É muito próxima à empatia mas se foca no sofrimento do outro e tem mais uns ingredientes.

Nesses dias tenho dialogado com a compaixão quando me vi pensando e procurando pessoas conhecidas que moram na região alagada ou tem familia na região.

Se você quer saber se é capaz de compaixão, se pergunte se é capaz de ficar ao lado e empatizar com o sofrimento de alguém mesmo sem ter nada para propor como solução.

A compaixão se amplia no silêncio e no acolhimento ao outro. É tudo que podemos fazer diante da tragédia avassaladora como um cataclisma, uma doença terminal, uma morte iminente.

Quem não consegue sentir compaixão não poderá ser um bom psicanalista. Na análise devemos saber silenciar e acolher. E se a lágrima vier aos nossos olhos chorar junto sem constrangimento. O paciente se cura também ao se sentir humano em seu sofrimento, sem ser excluído ou discriminado. Essa condição melhora sua auto-estima. Sem auto- estima fica quase impossível superar obstáculos. O grande desafio não é amar e acolher o que nos toca  a alma por falsa empatia imediata, a da projeção,  mas também o que a princípio pode ter até nos causado sentimentos como : medo, rejeição, estranheza, horror. Na análise quando adentramos as vivências  da contratransferência  experenciamos o que vem a ser a compaixão.

Tunga - À Luz de Dois Mundos

Escultura de Tunga .

“O isolamento só existe no isolamento. Uma vez compartilhado ele desaparece.” ( Breuer  se dirige a Nietzsche no filme Quando Nietzsche Chorou , baseado no romance de Irvin Yalom ). Nietzsche chora porque se sente livre ao entrar em contato com o significado de sua angústia. Lou Andrés Salomé foi o elemento de ligação anímico de grande importância na fundação da psicanálise. O Livro e o filme tratam de forma eloquente como o tema da sombra de Deus foi fundamental fundação da  psicanálise junguiana. O conflito entre eros e poder ,  entre vínculo amoroso  e individuação, angústia de morte e individuação estão presentes nos dois autores: Freud e Jung.

Irvin Yalom traduz com propriedade a importância da emoção do analista para a “Talking Cure”,  idéia de Breuer,  como precursora da psicanálise.

Nietzsche em Zaratrustra expressa seu sentimento de ser um homem fora de seu tempo e que portanto, só lhe resta o isolamento. Embora tomado como nihilista, Nietzsche fala de um deus morto para se referir à solidão  de um homem dissociado de sua alma.

Anna Ó foi fundamental para a formulação do conceito de transferência e contratransferência Freudiano. No conceito freudiano o complexo de Édipo era o fulcrum dos processos transferenciais. Jung não elege um complexo em particular como fundador da transferência mas reconhece a transferência como fulcrum da análise.  Para Jung a psique se projeta em busca da humanização de seu potencial arquetípico. A projeção é ingrediente da transferência e da contratrasnferência mas Jung não dá primazia a um complexo em particular na transferência.  No Livro de Irvin Yalom  a identificação projetiva, conceito de Melanie Klein também está presente como ingrediente do processo transferencial. A integração do consciente com o inconsciente aparece em todos os autores referidos como fundamento da cura analítica. Freud e Jung se separam quanto aos seus conceitos de inconsciente. Para Jung existe o inconsciente coletivo, acervo da memória ancestral e do potencial arquetípico. A transferência é também arquetípica.

Se Jung , Freud, Breuer, e Nietzsche tivessem prosseguido seu diálogo sem que o rompimento de Freud e Jung tivesse ocorrido em 1913 ,  talvez pudessem reconhecer mais pontes entre suas teorias.