Há quem defenda que os homens preferem as mulheres mais velhas. No meu consultório não é assim que acontece e nem na minha experiência pessoal. Não sei se existem dados estatísticos que comprovem o dado na população brasileira. O que observo é que cada vez mais se fazem relações de conveniência ou de adaptação na terceira idade. Já não há muito tempo nessa fase da vida para errar, nem para se frustrar e a tolerância torna-se, então, fundamental. Mas não é isso que acontece sempre. A meu ver esse tipo de parceria se possibilita muitas vezes sacrificando a alteridade de dois ou de um dos dois. Em alguns casais a solução de sobrevivência é manter um casamento que já acabou.
Casais que estão em segunda ou terceira união formam parcerias de diferentes formatos e isso a meu ver independe da idade cronológica dos parceiros. Hoje vemos também casais mais velhos com modelos de relação onde predomina a alteridade e com formato que foge ao casamento tradicional ( morar junto, ter filho , etc). Nos casais em que os parceiros tem idades diferentes há muito tempo na população brasileira vemos o modelo, mulher mais nova e homem mais velho, em sua maioria com um crescimento da distância de idade entre os dois ao longo das últimas décadas. Esse fato chegou até a esfera do direito na discussão do que poderia ser considerado abuso e sedução quando uma adolescente se relaciona com um homem da idade de seu pai. Não tenho dado estatístico para afirmar que casais com grande diferença de idade tenham hoje uma maior predominância de mulheres como mais velhas. E caberia uma ressalva aqui : de que fase da vida estamos falando ? Mulheres mais velhas de que idade e homens de que idade ? A tirania em relação ao corpo jovem da mulher continua. Não acabou. No consultório vejo na população masculina um sentimento de maior fragilidade com o ganho de autonomia das mulheres sejam eles mais novos ou mais velhos do que a companheira. Vejo nas mulheres uma afirmação da identidade através de um maior ganho de autonomia financeira e no seu poder de ir e vir.
Mas a meu ver, o fator idade cronológica não se constitui como variável regente ou preponderante para se entender as parcerias amorosas entre homens e mulheres.
Por que citamos Macron como exemplo para fundamentar que homens jovens preferem mulheres mais velhas e não refletimos sobre o tipo de casal Trump?
Talvez para acalmar a ferida antiga da população feminina que sofre com a tirania social do corpo jovem submisso ao poder patriarcal. De mulheres que se anulam e se submetem por uma falsa segurança e status social. Poder almejar amar e ter um companheiro também na velhice a meu ver teria que advir da pergunta oposta a ” o que preferem os homens?” Seu contraponto: ” o que preferem as mulheres?”
Será que somos nós mulheres capazes dessa consciência? CB

Ausência: lembrança de uma presença.

Parece que foi ontem
Aqui…tão perto.
Você …eu.
Nós ainda havia.
Rindo muito.
Muito.

Sons flutuavam.
Imagens vibravam.
Lembranças .
Lembranças.

Está tudo tão bem.
Quase bem.
Até que suportável
Tragável.
Às vezes intragável

Quem sabe um vinho. CB

Quando nos separamos de alguém que amamos o que fica é a memória dos bons momentos.  Voltamos aos mesmos lugares para nos apossar do vivido. De tanto rever os objetos, os lugares, ouvir a música e a voz que gravamos permitimos que esse ser que amamos nos habite, una-se à nossa história como uma camada de nossa pele.  Essas imagens convertem-se em memória do vivido e do não vivido.  Consola-nos ouvir histórias mesmo que contadas por outros a respeito do ser amado. A cada detalhe dessa história é mais um se apossar de sua imagem, de possuí-lo. Mas esse se apossar depende de nossa capacidade de imaginar, de fabular e fazer sonhos.  Reconstruímos a imagem do outro e nossa memória utilizando o conhecido e o que imaginamos.

Assim também faz o artista que se apossa da realidade se transformando e transformando-a.  Quando nos afastamos do outro percebemos como é tênue o limite entre o que vemos e o que imaginamos. Quem era ele/ Quem sou eu?  Essa possibilidade de utilizar a própria sensibilidade e imaginação para reconstruir a imagem do outro e de si mesmo é  o campo da arte como também da psicologia por caminhos diferentes. A utilização da imagem como símbolo na psicologia demonstra que é possível acessar sentimentos, emoções através do pensamento sintético, das imagens, da música, da linguagem poética.

Quando nos afastamos do convencional, das justificativas racionais, das explicações e atribuições de culpa e responsabilidade diante dos fatos, podemos acessar o essencial, o que nos une e nos separa do outro.

Na prática de lembrar e relembrar se dá o trazer e mandar embora aquele que amamos. Mas agora permitindo a permanência dos rastros.

A arte possibilita essa mediação entre os dois momentos: o da presença concreta do outro e o de sua ausência inaugurando uma outra presença, essa simbólica. Cantar a cantiga que chora o morto é uma maneira de trazê-lo de volta para reafirmar sua partida.

Desenhar a presença do outro no meu imaginário pode ser trazê-lo, humanizá-lo mesmo na sua ausência. A arte possibilita o ver através do mais imediato e óbvio, criando novas perspectivas de percepção. Bebe e se lambuza da realidade para transformá-la.

Posso reinventar uma história vivida escrevendo um poema. A linguagem poética suspende a explicação racional para instalar o espaço do sentir e da experiência. Instala-se em um tempo simbólico, não linear, que permite a superposição de imagens, a coexistência das contradições, o diálogo entre o bem e o mal, no qual não há mais culpados e vítimas.Insensatez 001

A frases de manual

Prefiro o silêncio

Presença e gesto

Em silêncio.

Cheiro, gosto e tato,

Sons do silêncio.

Dia dos namorados

12/06/2013

flores 004Dia dos namorados.

“Se você quer ser minha namorada..Ai que linda namorada você poderia ser.” Se quiser ser sòmente minha, exatamente essa coisinha”, dizia o poeta.
Todos tivemos nosso primeiro amor. O amor que inaugurou nossa função de ligação, de continuidade.
Mas foi necessário que o amor se tornasse algo além do romântico, para além da idealização do próprio amor.
E assim o “Você tem que vir comigo em meu caminho” dos anos 60 deu lugar à busca de um caminho que considera a alteridade.
“Porque tão linda assim só existe a flor e essa flor não existe ” deu lugar a “eu ando pelo mundo… meu amor cadê você.. eu acordei não tem ninguém ao lado..”
Hoje a flor existe e tem desejos e intenções. Anda pelo mundo. O amor liga o divino e o profano. Amar alguém é como ver a cara de Deus.

Del amor

10/09/2011

“Ahora bien: de los falsos amores sólo puede quedar en el alma la melancólica advertencia de su falsedad , la experiencia de su evaporación. José Ortega e Gasset

“Éste es el sintoma supremo del verdadero amor: estar al lado de lo amado, en un contacto y proximidad más profundos que los espaciales . Es un estar vitalmente con el otro. La palavra más exacta, pero demasiado técnica, seria ésta: un estar ontológicamente con el amado, fiel al destino de éste, sea el que sea.

[…] el amor es, en algún sentido y de alguna manera, impulso hacia lo perfecto”.

Talvez este seja o lado perverso do amor do qual relutamos abdicar- a perfeição.

Tricot e Alma.

08/01/2011

Grávida aos 34 anos

Tricot é objeto transicional durante a gravidez, quando esperamos um filho ou um neto. A cada carreira encenamos o tempo passando. Quando erramos, treinamos a paciência, de desmanchar e recomeçar. A cada obra executada um grão de amor se deposita na alma.

 

Tricot ( Poema de Nícolas Brandão)

 

Fácil é o ponto

que de ponta em ponta

é ponto

é pronto

 

simples é a linha

que alinha

ponto após ponto

gostoso é o espaço onde tudo se deita.

 

 

 

Daqui escutei

Quando eles

chegaram rindo

 e correndo

entraram

na sala

e logo

invadiram também

o escritório

( onde eu trabalhava)

num alvoroço e rindo correndo

se foram

 com sua alegria

Ferreira Gullar –   (trecho de Poema Filhos do livro “Muitas Vozes”, de 1999)

“A perda de um filho é algo que você nunca mais se recupera.” Em entrevista dada à revista Bravo de outubro de 2010.

Na entrevista Ferreira Gullar relata que perdeu um de seus filhos nos anos 90 com cirrose aos 34 anos de idade.

Sente que não deu a devida atenção aos filhos.

Esse sentimento, a culpa é recorrente no caso da perda de um filho. Os pais esperam sempre que irão embora antes dos filhos e quando o contrário acontece o sentimento  de culpa e a impotência são muito grandes. O sentimento de amputação é relativo a uma parte arrancada da própria identidade vivida no filho. Como na música de Chico Buarque:

Pedaço de Mim
Chico Buarque

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

Na letra da música de Chico é descrito o sentimento de melancolia em que a saudade é uma presença, a única presença possível do filho que já morreu. Arrumar o quarto ainda é sentir a presença.  Continuar a navegar sem permitir que o barco da consciência atraque no cais e traga em sua concretude a ausência é a alternativa que pode ser viabilizada. A lembrança  de quem se foi é ainda uma forma de  presença e de adiar a perda.

 A saudade é o revés do parto porque eterniza a fusão com o filho  que não pode se desgarrar para seguir o próprio destino.  Aceitar que o destino do filho é dele e sobre o qual não podemos arbitrar é deixar ir como no parto e elaborar o luto.

Mas esse “delivery” , “deixar ir”, “entregar”é um processo penoso pelo qual  passa  o enlutado na elaboração de sua perda. Certamente , no exercício do desapego se dará um crescimento espiritual se a perda puder ser transformada em uma ação de amor, de um amor renascido  em direção ao outro e à própria vida.

 Na melancolia carrega-se eternamente a mortalha do amor perdido como diz Chico em seus versos: “Eu não quero levar comigo a mortalha do amor, adeus.”

 Em um grupo de psicoterapia, um casal se culpava por ter cometido um aborto. Nesse caso tinham optado por não ter o filho. O sentimento de culpa e o de responsabilidade eram terríveis. Embora soubessem as circunstâncias em que haviam feito essa escolha nada os acalmava. Foi necessário encenar a possibilidade do perdão do filho para que algum alívio ocorresse.  Essa é uma situação extremada de culpa , mas quando a morte ocorre sem qualquer arbítrio dos pais, ainda o sentimento de culpa e impotência ocorrem por não terem podido salvar o filho. Esse mesmo sentimento ocorre em abortos expontâneos.

 Na elaboração criativa da perda é preciso sair do sentimento de culpa para o de comunhão com o todo em que nos sentimos parte de uma existência  da qual não temos controle absoluto. Essa constatação pode ser um alívio na dor, mesmo que de uma dor que nunca passa, como disse Ferreira Gullar.

Platão e o amor

11/07/2010

A história do amor e da sexualidade é expressiva das transformações sociais mais amplas.

No texto O banquete de Platão temos a formulação do conceito de belo, de verdade e de virtude como a busca do divino que se aparta do carnal e dos prazeres mais simples do homem.  A deusa Pandêmia é a inspiradora dos amores carnais, vulgares e comuns e Urânia é a deusa que não tem mãe, inspiradora de um amor etéreo, superior e imaterial, através do qual se atinge um amor supremo, como Diotima revelou a Sócrates.

Diz Platão:

“Que devemos pensar de um homem ao qual tivesse sido dado contemplar a beleza pura, simples, sem mistura, a beleza não revestida de carne, de cores e de outras coisas mortais e sem valor- mas a beleza divina?”

Desse texto a famosa expressão amor platônico ou etéreo ausente dos prazeres da carne.

Da mesma maneira aparece na Epístola do apóstolo Paulo aos Coríntos o amor de dileção preservado das paixões humanas.

Na idade Média os místicos alimentaram a fantasia de sacrificar o corpo e oferecê-lo a Deus.

Os libertinos e Sade elegeram o corpo como o único lugar do gozo opondo-se ao cristianismo que havia  eleito a alma. O nome do Marques de Sade se tornou substantivo para designar o inimigo do próximo, de si e da nação.

Prosseguindo com  história das relações amorosas e das práticas sexuais, é importante lembrar que no século XII o casamento foi sacramentado em uma estrutura patriarcal e ainda de bases feudais, em que a mulher passava no casamento da condição de propriedade da família e de seu pai para a reclusão do casamento indissolúvel  e da autoridade do marido.

O sexo era um dever a ser cumprido no casamento e tinha o compromisso da procriação. A mulher que não correspondesse a essas expectativas era devolvida para o pai ou para a familia e muitas viam apenas no convento a saída para o sofrimento de sua condição feminina . As dissociações entre a mente e o corpo, entre o sagrado e o profano, entre o amor e a sexualidade eram, então, expressivas.

Platón y el amor

La historia del amor y de la sexualidad es expresiva de las transformaciones sociales más amplias.

En el texto El banquete de Platón tenemos la formulación del concepto de bello, de verdad y de virtud como la búsqueda del divino que se aparta del carnal y de los placeres más sencillos del hombre.

La diosa Pandemia es la inspiradora de los amores carnales, vulgares y corrientes y Urania es la diosa que no tiene madre, inspiradora de un amor etéreo, superior e inmaterial, a través del cual se alcanza el amor supremo, como Diotima se lo reveló a Sócrates.

Dice Platón :

“¿Qué debemos pensar acerca de un hombre al que le hubiera sido dado contemplar la belleza pura, simple, sin mezcla, la belleza no revestida de carne, de colores y de otras cosas mortales y sin valor- sino la belleza divina?   

De ese texto la famosa expresión amor platónico o etéreo sin los placeres de la carne.

De la misma manera consta en la  Epístola del apóstol Pablo a los Corintos, el amor de dilección, el amor ágape, preservado de las pasiones humanas.

En la Edad Media los místicos defendieron la fantasía de sacrificar el cuerpo y  ofrecérselo  a Dios.

Los libertinos y Sade eligieron el cuerpo como el único lugar del goce oponiéndose al cristianismo que había elegido el alma. El nombre del Marqués de Sade se tornó sustantivo para designar al enemigo del prójimo, de si y de la nación.

Prosseguindo com  a história das relações amorosas e das práticas sexuais, é importante lembrar que no século XII o casamento foi sacramentado em uma estrutura patriarcal e ainda de bases feudais, em que a mulher passava no casamento da condição de propriedade da família e de seu pai para a reclusão do casamento indissolúvel  e da autoridade do marido.

Dando continuidad a la historia de las relaciones amorosas y de las prácticas sexuales, es importante recordar que en el siglo XII el matrimonio fue sacramentado en una estructura patriarcal y aún de bases feudales, donde la mujer pasaba en el matrimonio de la condición de propiedad de la familia y de su padre hacia la reclusión del matrimonio indisoluble y de la autoridad del marido.

El sexo era un deber a cumplirse en el matrimonio y tenia el compromiso de la procreación. La mujer que no correspondiera a esas expectativas era devuelta al padre o  a la familia y muchas veían solo en el convento la salida para el sufrimiento de su condición femenina. Las disociaciones entre la mente y el cuerpo, entre el sagrado y el profano, entre el amor y la sexualidad eran, entonces, expresivas. 

 

No artigo “Cérebro luta contra o fim do amor ” de Débora Mismetti, publicado em 11/6/2010 na Folha de São Paulo entende-se que ficar só não é o melhor método para a cura de uma ferida do amor que acabou. O cérebro tenta restaurar a situação de recompensa e de satisfação experimentada enquanto o amor ainda estava vivo.A visão da neurologia contrasta com a da psicanálise desde seus primórdios que propõe a vivência do luto como condição da elaboração da perda. Ficar só e mergulhar na tristeza seria um caminho de elaboração que se afasta da solução maníaca de repor rápidamente o objeto de investimento amoroso. Trocar rápidamente de parceiro também pode ser uma forma de negação da perda.

A empatia experimentada anteriormente ficou sem objeto mas é necessário viver o vazio para que se possa instalar um novo espaço de acolhimento para um novo amor, uma nova empatia. O que você acha disso?

O artigo em questão afirma que as borboletas no estômago surgem no começo da relação, reduzem no meio e ressurgem no final. Será?

Há relações que esfriam completamente e acabam “sem borboletas”. Elas voaram para outro lugar: estão escondidas no inconsciente para escapar da ameaça de morte: a morte da libido experimentada quando as relações esfriam. Borboletas “histriônicas” às vezes permanecem no local de costume .

Na análise de casais o que vejo é que ao final da relação , as borboletas quando não estão escondidinhas no inconsciente, voaram para um outro estímulo atraente à libido: uma outra pessoa, o trabalho, um vício ou as fantasias, agora afastadas da relação. No estômago… um vazio.

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