René Girard traz um texto de Buddha Birth Stories  para falar de uma sátira ao tema do sacrifício, quando este perde  a sua dimensão simbólica e se reduz a um mero ritual. “Era uma vez em Benarés um rei que se chamava Brahmandatta, e o seu capelão, um moreno que perdera todos os seus dentes. A mulher desse capelão tinha uma relação ilícita com um outro brâmane, este também moreno e desdentado.

Como não conseguia interromper essa relação, o capelão decidiu recorrer aos grandes meios. Ele foi encontrar o monarca e disse-lhe que a porta sul da sua capital estava mal colocada e que podia lhe trazer infortúnio. Era preciso reconstruí-la com materiais melhorados por um sacrifício que seria feito nas melhores condições. Era necessário ter como vítima um brâmane moreno desdentado de linhagem pura dos dois lados da familia. O rei consentiu, mas o tonto do capelão não conseguiu, ao voltar para sua casa, deixar de se vangloriar de sua habilidade diante de sua mulher que, assim que ele adormeceu, correu para avisar o seu amante, e o próprio amante correu para avisar todos os outros brâmanes também morenos e desdentados, que fugiram todos de Benatés antes da alvorada. Como o capelão, era o único brâmane na cidade que correspondia às condições necessárias  para servir de vítima , o rei o prendeu para que fosse executado. ( estraído do livro O Sacrifício).

A inveja e a rivalidade estão presentes na dinâmica do bode expiatório.  A eficácia redentora do bode expiatório está no seu não reconhecimento como tal pelo grupo. O mito que o define como redentor disfarça a violência que o mantém vivo.  Para Girard o sacrifício vem do fenômeno de bode expiatório. A essência do sacrifício é sacrificar uma vítima por outra e atenuar a violência original envolvida no ato. Mas Girard não está falando aqui de sublimação. Se a base do sacrifício é o desejo mimético , o desejo de possuir o que o outro possui, de ser o outro  conecta -se com o tema da violência.

Para Jung, “o mundo se origina quando o homem o descobre. E ele o descobre quando sacrifica sua condição de envolto pela mãe original, pelo estado inicial inconsciente.”( Jung, 1986, p.401) . Segundo Jung,” o sacrifício de  animais quando perde o significado de simples oferenda e adquire um sentido religioso mais elevado, está em íntima relação com o herói e com a divindade.{..} o sacrifício do animal significa imolação da natureza animal, da libido instintiva.” ( Jung, op. cit,  p. 407) . O sacrifício do humano representado no mito cristão fala do auto-sacrifício, da consciência  que se sujeita a um processo de transformação a partir de uma rendição  e um ato de renúncia. A energia envolvida antes no conflito é liberada a favor da reconciliação entre opostos.