Freud e Jung e a teoria das neuroses.
30/10/2009
Em 1910 se dá o segundo Congresso Internacional de psicanálise em Nuremberg. Jung assume por indicação de Freud a presidência da Associação Internacional de Psicanálise.
Em 1911 houve o terceiro Congresso Internacional de Psicanálise em Weimar e Jung escreve a primeira parte de “Metamorfoses e Símbolos da Libido.”
Em 1912 profere nove conferências sobre a teoria psicanalítica na Fordham University (NY). Estas conferências foram compiladas e publicadas em 1913 no volume quatro das obras completas de Jung. Nessa época enviou a Freud a segunda parte de “Metamorfoses e Símbolos da Libido”.
Estabeleceu então, intensa relação com Freud até 1913 quando começaram a discutir sobre suas divergências quanto ao conceito de libido.
Sobre a teoria da libido, o diálogo entre Freud e Jung resgatado na correspondência entre os dois psicanalistas, atesta a tensão gerada pela divergência.
Essa correspondência se divide entre um periodo inical de entusiasmo, e um periodo onde começam as dúvidas como na carta, cujo trecho relato a seguir.
Diz Jung:
“…. Gostaria de pedir-lhe um esclarecimento: O senhor considera a sexualidade a mãe de todos os sentimentos? A sexualidade não é para o senhor apenas um componente da personalidade (ainda que o mais importante) e, nesse caso, o complexo sexual não seria o mais importante e o mais frequente componente no quadro clínico da histeria? Não há sintomas histéricos que, embora codeterminados pelo complexo sexual, são condicionados predominantemente por uma sublimação ou por um complexo não sexual ( profissão, emprego, etc) ? Decerto em minha pouca experiência, vi apenas complexos sexuais e o direi explicitamente em Amsterdam. Cordiais saudações. Sinceramente, Jung.” Carta 39 J 19/8/1907
Responde Freud:
“…No tocante à sua pergunta , nem numa resma desse papel caberia resposta. Não que meu saber seja tanto: as possibilidades igualmente válidas é que são muitas. Não acredito por ora que alguém acerte ao dizer que a sexualidade é a mãe de todos os sentimentos. Sabemos como o poeta, de duas fontes instintuais. A sexualidade é uma delas. Um sentimento parece ser a percepção íntima de uma catexia instintual. Indubitàvelmente há sentimentos que brotam de uma combinação das duas fontes[……] É simplesmente como uma necessidade teórica que encaro ( por ora) o papel dos complexos sexuais na histeria; e não deduzo isso da frequência e intensidade dos mesmos . Acho que ainda não se pode ter provas. Não é conclusivo o fato de vermos pessoas vitimadas pelo trabalho, etc., pois o componente sexual no homem homossexual é facilmente demonstrável na análise. Sei que nalgum ponto encontramos o conflito entre catexia do ego e catexia objetal, mas observação direta clinica nem mesmo posso especular.
Estou tão desligado de tudo que nem sequer sei a data do Congresso de Amsterdam. Mas espero, antes disso, ter noticias suas. Ficarei aqui até 10 de setembro. Cordialmente Dr Freud. ” Carta 40 F 27/8/1907
Freud refere- se aqui aos chamados instintos de conservação, à fome , especificamente. Para Freud nessa época, haviam duas fontes instintuais: os instintos sexuais e os de conservação. Mais tarde irá rever sua teoria das pulsões no artigo de 1920 “Mais além do princípio do prazer .”
O poeta citado por Freud é Schiller:
“ Enquanto ninguém o mundo
Constrói em filosofia
A força que impera e manda
É um duplo de amor e fome.”
Em outra carta diz Jung:
…”Tentei assentar o simbólico numa base psicogenética, ou seja , mostrar que na fantasia individual o primum movens, o conflito individual- matéria ou forma como se prefira- é mítico ou mitològicamente típico. 175J 30/1/1910
Para Jung não há uma pulsão primordial na motivação humana.
A um ausente
25/10/2009
Versos de Carlos Drummond de Andrade
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enlouquecendo nossas horas.
que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Para Cássio
13/10/2009
SUTILMENTE
“E quando eu estiver
Triste
Simplesmente
Me abrace
Quando eu estiver
Louco
Subitamente
Se afaste
Quando eu estiver
Fogo
Suavemente
Se encaixe
E quando eu estiver
Bobo
Sutilmente
Disfarce
Mas quando eu estiver
Morto
Suplico que não me mate não
Dentro de ti
Mesmo que o mundo
Acabe enfim
Dentro de tudo
Que cabe em ti….”
Auto – estima dos homens
07/10/2009
Foto: Banda Seis Sextos
A perda dos homens na contemporaneidade da legitimidade como provedores e chefes de familia, e por outro, dos privilégios associados à condição de progenitores , dados os avanços de reprodução assistida, e finalmente, como referencias simbólicos, essenciais na criação das crianças, tem contribuido para a baixa auto-estima e para o conflito de identidade na população masculina.
Como consequência, a dificuldade de exporem em público e entregarem também na intimidade sua afetividade sem se sentirem fragilizados.
Sendo o papel do sustento da famlia compartilhado com a mulher e o papel dos cuidados domésticos ainda não valorizado, esses homens vêem seu papel na casa como residual e periférico, sentindo-se desvalorizados.
A competência da mulher e os cuidados da mulher são subtraidos à sua competência.
O afastamento do homem das tarefas domésticas restringe seu universo e sua referência de auto-estima ao mundo profissional. Em uma situação de desemprego, ou crise profissional, o sentimento de impotência perante a mulher, se agudiza quando, principalmente, a companheira exerce atividade profissional .
O homem contemporâneo está se relacionando com um imago de uma mulher extremamente poderosa.
Essa percepção desencadeia disputas entre os casais em que se confude : apego com controle, cuidado com domínio, carinho e demonstração de afeto com fragilidade.
O grande desafio é o resgate da afetividade dos homens que não se intimide frente à competência e autonomia das mulheres.