foto Porto Velho

Meu Marzão

29/07/2009

orange tree

 

Houve um tempo.
Houve um pé de laranja.
Como aquele do Zé Mauro.
Havia também um grande quintal.
Uma pequena casa.
A calçada e o Marzão do lado de lá.
Um pé de laranja pode ser um marzão
Depende de onde se olha.
Um sonho.
Como seria o mundo lá de cima?

Trepando no mamoeiro

O cheiro de terra molhada desagua na imensidão.
Não acaba mais.
O barulho da água no tanque de cimento.
Aquilo parece que não tem fim
É fundo, fundo mesmo.
Só vendo.
Só tomando banho de tanque pra acreditar nisso tudo!

autora: Celia Brandão

O Último Tango em Paris

O Último Tango em Paris

Um filme marcou os anos 70 – O Último Tango em Paris de Bernardo Bertorlucci com Marlon Brando e Maria Sheneider. Quando não há separação, entre o eu e o outro não há projeto de relacionamento possivel. O que é um problema para um, a angústia de um não é problema para o outro. As relaçoes simbióticas apresentam vínculos especulares estabelecendo padrões narcisistas de comportamento. A dinâmica simbiótica está na dificuldade do casal de simbolizar frente a situações de ameaça ou frustração. O anonimato concretiza a possibilidade massiva de projeções. No filme,”O Último Tango em Paris” o casal permanece no anonimato e quando êle resolve revelar sua identidade, ela foge afirmando que não o conhece. Quando ele resolve insistir ela mata a única testemunha de seu desejo e de suas fantasias. Como amamos em 2009 ?

 

 

Mariana blog

Foto de Mariana Brandão

Durante sua formação o analista realiza incursões profundas em seus afetos e se deixa afetar, influir pelo outro. Podemos entender esse outro como uma abstração, como parte da configuração psíquica de todo indivíduo, ou então, como o outro “de fato”, aquele que existe além de mim.

Cabe ao terapeuta a partir de suas experiências anímicas buscar a compreensão do outro. O que nos desafia é sempre a outra alma humana. As limitações estabelecidas pelo outro são sentidas em qualquer relacionamento ora como a gratificação e redenção ora como a tragédia da própria relação.

A forma de compreensão que temos de nossas vivências emocionais pode conduzir nossos desenvolvimentos para caminhos mais ou menos saudáveis.

É esse o papel do terapeuta e do analista: caminhar junto com seus pacientes como mediador da busca de uma melhor qualidade de comunicação com seu inconsciente e símbolos.

A esse caminho de auto-construção que se dá a partir da relação dialética entre consciência e inconsciente Jung chamou de processo de individuação.

Bem, mas trocando em miúdos, o que é análise mesmo ? Só passando por ela.

Oi Tio

28/07/2009

noivaOi tio

Se fosses meu tio
Deitava em teu colo
Armava uma rêde
Chorava baixinho
Procê me ninar.

Eu punha um vestido
Pra te encantar.

Te dava um beijinho
De short e descalça
Com blusa sem alça
Fazia um carinho.

Fazia um chorinho
E ria de novo
Depois fugia
procê me achar.

Onde anda esse tio
Amor madrugada
A me embalar?

Eu deito em teu colo
Eu beijo tua boca
Tudo proibido !

E eu?
Te amo em silêncio.

o caminhoO mundo é uma goiaba
Gorda, amarela e verde
Tudo cheira a goiaba.
O corpo infantil
Na ponta dos pés
Em busca da goiaba!
Mãos de dedos finos
magras e precisas
Tomam a goiaba
O mundo em suas mãos
Ah! Vovô!
Ai de mim sem você .

Violência e poder

27/07/2009

criança vitimizada 

A palavra sacri-fício significa fazer sagrado. O sacrifício é um ritual social  de fazer  e tornar sagrado. Um membro do grupo é responsabilizado pelas transgressões e esse mesmo elemento será o mediador da salvação através do seu sacrificio.

A violência do sacrifício não apenas produz o sagrado mas também sacraliza a violência. Excluida da sociedade devido ao temor às suas influências negativas, a violência fundadora é ao mesmo tempo venerada por seu aspecto criativo.  O papel da vitima é de operar a função transcendente entre o bem e o mal.  Emerge da indiferenciação grupal e produz  através de seu sacrificio a diferenciação das atitudes do grupo. Ao mesmo tempo que condensa a maldade social como bode expiatório, a vítima transita numa esfera ambígua entre o bem e o mal. Ela nasce da indiferenciação e produz a diferenciação  porque funda a cultura. Ao mesmo tempo que , como bode expiatório a vitima consolida a maldade social, de outro lado, libera o grupo de seu sentimento de ameaça interno em relação às agressões e recriminações constantes que abalavam a coesão grupal. Desse fato um poder redentor atribuido à vitima.

A dinâmica do bode espiatório é conhecida de todos nós. É o que Girard chama de vítima sacrificial. Pensamos de maneira equivocada sobre a violência como um epifenômeno do poder. É quando o poder legítimo perdeu a sua força, quando o sentido ético se perdeu , que ocorre a violência, o abuso do poder e o pacto do silêncio.

Porta dos fundos

26/07/2009

POrta dos fundosPorta dos fundos

Você entrou pela porta dos fundos.

E daí?

Tudo tem que ser pela porta da frente?

Deu uma corrente de vento

No corredor do meu peito

Tentei fechar as janelas

Me pus a arrumar os tapetes,

Pétalas de flores dos vasos

A esvoaçar pela sala,

E num instante essa ordem

desordenou inteira.

Que bom que tem porta dos fundos !

Pucón - Coñaripe (17)Separação : Morte e Criatividade

Hoje as crianças são iniciadas , desde a mais tenra idade , na fisionomia do amor e do nascimento:no entanto, quando não vêem mais o avô e perguntam por que, respondem-lhes,na França, que este viajou para muito longe, e , na Inglaterra , que descansa num lindo jardim onde crescem as madressilvas.Já não são as crianças que nascem de repolhos mas os mortos que desaparecem por entre as flores. Os parentes dos mortos são, então coagidos a fingir indiferença. A sociedade exige deles um autocontrole que corresponde à decência ou à dignidade que impõe aos moribundos. No caso destes, como no do sobrevivente, é importante nada dar a perceber de suas emoções.( Ariés , P História da morte no Ocidente)

‘Nossa opinião sobre a voz interior move-se em dois extremos: ou a vemos como um desvario total ou então como a voz de Deus. A ninguém ocorre que possa haver um meio termo valioso. O “outro’que responde deve ser tão unilateral, por seu lado quanto o eu. Do conflito entre ambos pode surgir verdade e sentido, mas isto só no caso de que o eu esteja disposto a conceder a personalidade que cabe ao outro. Este ultimo tem uma personalidade própria, sem dúvida, tanto quanto as vozes dos doentes mentais ; porém um colóquio verdadeiro só se torna possível quando o eu reconhece a existência do interlocutor.”(Jung G.C.,Arquétipos e Inconsciente coletivo par.237)

Vivemos várias separações durante a vida : da casa dos pais , dos vários objetos de amor, das nossas idealizações e a perspectiva da separação da própria vida pela morte.

A elaboração de uma ausência envolve um processo de rendição egóica. A possibilidade da superação da perda e da separação reivindica, por outro lado, um ego capaz de valores próprios e do reconhecimento do outro.

A proibição ou a negacão do luto diante de uma perda afetiva tem se intensificado frente à necessidade de desempenho social e de domínio em nosso cotidiano.

marriages et divorces

A impossibilidade de viver o luto, a falta de acolhimento social para o sofrimento nos lança em um movimento de negação e na necessidade de desfazer precocemente o sentimento de perda na consciência.

Algumas manifestações ou síndromes psíquicas aparecem como escape à vivência do luto e da separação.

“Como viver com a certeza da morte e da separação?

Para alguns autores o medo da morte está na raiz do medo da mudança.

De outro lado, reconhecemos que recusar a mudança é estar morto agora.

Se a necessidade de desfazer a separação na consciência antecede a elaboração do luto instala-se a melancolia. Viver melancòlicamente é permanecer atado à lembrança de uma antiga presença. A elaboração de uma ausência se faz na inauguração da possibilidade de uma nova presença , na consciência. Reinstala-se, então, o movimento criativo da psique.

Do amor

26/07/2009

Tristão e Isolda 

Será preciso nascer

E depois morrer,

Renascer de várias mortes.

De quantas mortes

 já me esqueci.

Do amor, jamais.